Recomeça-se o
dia, todos os dias, trazendo nova oportunidade para caminhar meu caminho dourado.
Sinto-me
restrita.
Minhas
iniciativas não acompanham a vontade de realizar coisas. O calor que a arte me
dá, e mais especificamente, a arte de teatro se renova. Decorridos 4 anos, que têm
o peso e o aprendizado pessoal de 40, o que se modificou em mim foi o
entendimento de que a vida é mais ampla que o palco, requer outros papéis além daquele
como atriz.
Estou no
quinto período de arte dramática, em fase inicial de montagem de um texto de Beckett.
Paralelamente, tenho reuniões de produção de dois projetos, atividade semanal
como pesquisadora do corpo cênico da escola de artes e atividades de
experimentação de caráter independente. Na gaveta, muitos projetos embriões, de
linguagens teatrais, cenas solo e parcerias escolhidas a dedo, aguardando
decisão e tempo disponível. É muito mais do que pensei conquistar em escasso
tempo de atividade e 40 anos de uma vida sem pensar teatro.
Trabalho numa
empresa de engenharia e me desafio a manter rotinas de vida paralelas, organizadas
e independentes. Não quero que falte tempo para um filme ou uma conversa de bar.
Não quero retornar para casa sabendo não ter um abraço à minha espera.
Compreendi que não posso falar de vida sob a luz de um foco qualquer se descuido
de minhas próprias relações. Comovo-me pelos amigos que encontrei ao caminhar e
que fazem de mim alguém de coração cativo. Num tom quase que de confissão, percebo
ter considerado como impossível afeto que não fosse por um ator, apaixonada que estou, por um engenheiro.
Falta tempo para
estudo de voz e dança. Falta tempo para leituras. Falta tempo para escrever.
Falta tempo para a ioga e o muay thai. Falta tempo para o francês e a fotografia.
Então, receio os receios que me visitam. Porque sinto o corpo envelhecer. Sinto,
mas não me entrego ao fato, a maior parte do tempo. Ás vezes, choro um choro
que pede desculpas.
Projetando pensamento
aos próximos 5 anos, talvez não possa realizar tudo que planejei, ao desejar
ser atriz. Atriz, não. Desejei ter o ofício de ator. Ser agente. O que habita
em mim, hoje, é um misto de limitações físicas que não posso desconsiderar, feridas
emocionais e o que sou capaz de conceber. Quanto maiores são as dificuldades que
se aproximam de mim, maior a vontade em assemelhar-me ao vento, água e céu.
Desejo.
Embora sem chão.